terça-feira, novembro 30, 2010

Sempre tenho alguma coisa aqui, se não é no papel, no computador, está na cabeça, murmurando. Está sempre incompleto e sempre tem um pedaço que quero escrever depois. Meu braço pesa, minha cabeça pesa, tudo pesa e nada saí, fica preso. Hoje não é o dia do niilista, eu venci esse peso, mas ainda assim, falta um pedaço e sempre vai faltar.
__________________________________
(sem título)

o que está abandonado?
o que deixei para trás?
minha terra? dúvido.
nunca tive terra, nunca tive lar.
vaguei e busquei por esse lugar
que me fosse próprio.
este ópio,
onde da terra o sangue é feito.

pensei que se não fosse da terra,
seria do que se come e se partilha.
errei por todas as mesas,
e por todas me fiz um pouco de todos,
como se se fez a todos irmão,
saciado, dos irmãos saudades.

quarta-feira, junho 24, 2009

os perfumes, cheiros e aromas
tem um jeito especial de ser neste mundo,
de nos encantar pelas coisas.
isto que exala, que se emana
como algo mais que coisa,
é quase a coisa mesma
e na tua falta faz a coisa ser você.

o sentir dos cheiros não nos lembra,
mas evoca e traz presente,
propaga e faz presente a própria criatura.
se teu cheiro assim emana,
te alastra pelo mundo,
sem ele ser você ou ele vindo de ti,
por isso esta sempre presente.
entre o que exala, a coisa e o mundo,
não há nada senão a própria coisa sentida,
ou o que emana.

domingo, maio 03, 2009

a cada dia, no dia-dia
não vejo motivo para o que não é dito.
mesmo que não seja amor.

o revés, tu és tudo o que eu não queria.
não há o que não dizer.
é evidente por que jamais sabereis.

é neste dia,
que não sabeis.
estou aqui e tudo o que despejastes
esta na beira do que você mesmo pode ser.

sexta-feira, novembro 14, 2008

da terra que passa ao tempo.
da chuva que tolhe a vida.
dos tempos, o que restou perdido
sobrou de mim um homem,
despido...



*** trilha sonora do desfile de Letícia Waldow "A deriva".
Carlos Lamarque - Composição e arranjos
Paola Gibram - Piano e acordeon
Tiago Vekho - letra, vocais e produção

quarta-feira, outubro 22, 2008

eu tenho o costume de imaginar
que seremos próximos para sempre
e que o tempo que vivemos
é mesmo um lugare que voltarei
e todas nossas experiências e sensações
vão de novo transbordar
e a saudade irá se transformar,
mas se fosse isso e você estivesse lá,
não poderíamos viver juntos,
jamais como era antes,
além de mim, outros também se foram
e você seria só um vazio ao invés de saudade.

***ainda em construção

quinta-feira, maio 01, 2008

Poema escrito nos idos de 2003 sobre as aquelas gavetas fundas onde guardamos pequenos pedaços do que já fomos e onde voltamos para fazer uma arqueologia da saudade, sempre descobrindo que ela é mais profunda do que se possa imaginar e que os pequenos pedaços que se encontra são só vestígios de que se deve continuar a escavar.

SAMBAQUI

segunda-feira, novembro 12, 2007

este poema foi escrito debaixo do temporal e da humidade que atormentava minha cabeça em abril de 2005. Foi realmente um outono molhado aquele.

as pequenas gotas,
que vazam pelas frestas no inverno,
atravessavam cortando
o espaço entre o teto e o chão,
se dobrando entre as prateleiras,
os livros, e os cabides dependurados.

essas frestas no telhado,
dão ao céu,
são caminhos das nuvens
ao chão agora molhado
pelas gotas que atravessam
esse abismo rasgado no telhado.